A Doutrina de Cristo na História - Antes da Reforma

Blog do Pastor Gilson Soares
 
TEXTOS DE TEOLOGIA E FILOSOFIA


A DOUTRINA DE CRISTO NA HISTÓRIA

Professor: Pr. Gilson Soares dos Santos

     Para uma melhor compreensão da cristologia, é preciso situar a doutrina de Cristo na história da igreja cristã. Para isto dividimos em (1) Doutrina de Cristo antes da Reforma; e (2) Doutrina de Cristo depois da Reforma.

I – A DOUTRINA DE CRISTO ANTES DA REFORMA

     A Doutrina de Cristo antes da Reforma é dividida em duas partes: (1) Antes do Concílio de Calcedônia; e (2) Depois do Concílio de Calcedônia.

     Veremos aqui apenas de que lado cada grupo se posicionava, pois em outro estudo veremos com detalhes o que eles, de fato, ensinavam.

1.1 – A Doutrina de Cristo antes do Concílio de Calcedônia

A – Na literatura cristã primitiva Cristo é humano e divino. Ele é o Filho do homem, mas é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus. Seu caráter sem pecado é defendido. Ele é cultuado. Os primeiros cristãos não tiveram dificuldade em entender Cristo como homem e Deus.

 B – O judaísmo cristão já sentiu dificuldades em entender Cristo como sendo Deus, porque sua ênfase era no monoteísmo e entendiam que se admitissem que Cristo é Deus, deixariam de ser monoteístas.

C – Os ebionitas influenciados pelo judaísmo negaram a divindade de Cristo. Pensavam que admitindo Cristo como Deus estariam indo de encontro à sua crença monoteísta. Eles consideravam Jesus como simples homem.

D – Os alogi (álogos ou alogianos) eram contra a doutrina do Logos, pois acreditavam que a doutrina do Logos ensinada por João entrava em conflito com o restante do Novo Testamento.

E – Os monarquistas dinâmicos tinha em Paulo de Samósata seu principal representante e faziam distinção entre Jesus e o Logos. Jesus era um homem igual a todos os demais, nascido de Maria. O Logos era a razão impessoal divina que fez sua habitação em Jesus no momento do seu batismo e assim O qualificou para sua grande tarefa.

F – Os gnósticos foram influenciados pela concepção grega de que a matéria é inerentemente má e oposta ao espírito. Portanto, para eles, Jesus não poderia ter corpo humano, por isso Cristo tinha um corpo fantasmagórico.

G – Os monarquistas modalistas viam em Cristo apenas um modo ou uma manifestação do Deus único. Negavam a trindade.

H – Os pais alexandrinos e antignósticos defendiam a divindade de Cristo, mas o subordinavam ao Pai.

I – Tertuliano também ensinou um tipo de subordinação.

J – Orígenes ensinava um tipo de subordinação quanto à essência.

K – O arianismo que tinha Jesus como um ser intermediário, maior que o homem, porém menor que o Pai. Para eles o Pai é de Eternidade à Eternidade, mas Cristo foi criado, sendo a primeira das criações.

L – O apolinarismo acentuou a divindade de Cristo em detrimento de sua humanidade.

M – O nestorianismo acentuava a completa humanidade de Cristo e entendiam que a habitação do Logos nele era apenas uma habitação moral.

1.2 – O Concílio de Calcedônia

A – Para resolver o problema que surgiu por causa dessas controvérsias a respeito da pessoa de Cristo, é chamado um conselho da igreja em Calcedônia perto de Constantinopla (atual Istambul), a partir de 8 outubro - 1 novembro 451 d.C. A declaração resultante é conhecida como Definição de Calcedônia.

B – O credo de Calcedônia diz: “Nós, então, seguindo os Santos Padres, todos com um consentimento, ensinamos os homens a confessar um só e o mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade também, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, alma racional e corpo, consubstancial (coexistente) com o Pai segundo a divindade, e consubstancial a nós segundo a humanidade, em todas as coisas como nós, sem pecado, gerado pelo Pai antes de todas as idades, de acordo com Divindade, e nestes últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, de acordo com a humanidade, um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, para ser reconhecido em duas naturezas, sem confusão , imutável, indivisível, inseparável por qualquer meio, a distinção de naturezas desaparece pela união, mas sim preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo em uma pessoa e uma de subsistência, não se separaram ou dividida em duas pessoas, mas uma única e mesma Filho e unigênito, Deus a Palavra, o Senhor Jesus Cristo, como os profetas, desde o início ter declarado a respeito dele, e como o próprio Senhor Jesus Cristo nos ensinou, e o Credo dos Pais fomos dada.”

1.3 – Após o Concílio de Calcedônia

     Após o Concílio de Calcedônia, no período antes da Reforma, as controvérsias cristológicas continuaram.

A – Os Monofisitas ensinavam que Cristo tinha apenas uma natureza contrastando com os Diofisitas que ensinavam ter Cristo duas naturezas em uma só pessoa.

B – Os Monoteletas pregavam que Cristo tinha apenas uma vontade, contrastando com os Dioteletas que ensinavam que Cristo possuía duas vontades.

C – Na cristologia medieval a igreja estava geralmente satisfeita porque sua cristologia era sólida, e ela podia dar mais atenção a outras áreas doutrinárias. Entretanto, ocorreram duas tendências. Desequilíbrio e Morte Substitutiva que assim se configuram. Desequilíbrio : “A humanidade de Cristo, embora verbalmente sustentada, na prática, foi percebida cada vez mais abstratamente. Jesus era humano, mas tinha vantagens porque era Deus. Conseqüentemente, Cristo tornou-se tão divino que os medievais relacionavam-se melhor com Maria, os santos e os padres”. Morte Substitutiva: Por outro lado, a Cristologia tornou-se firmemente associada a doutrina da expiação de Cristo.