A Humanidade de Cristo (Negada)

Blog do Pastor Gilson Soares
 
TEXTOS DE TEOLOGIA E FILOSOFIA


A HUMANIDADE DE CRISTO (NEGADA)

Professor: Pr. Gilson Soares dos Santos

1 – A HUMANIDADE DE CRISTO NEGADA

Vejamos as heresias que negavam a humanidade de Cristo.

1.1 - Docetismo

     “No final do primeiro século, Marcião e os gnósticos ensinaram que Cristo apenas parecia ser homem (no grego, dokeo, parecer ou aparentar). O apostolo João referiu-s a esse falso ensinamento em I João 4.1-3. Essa heresia desafia não apenas a realidade da encarnação, mas também a validade do sacrifício e da ressurreição corpórea.”(1)

     “Para os docetas [...] Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois a matéria é intrinsecamente má. As epístolas de Colossenses e João argumentam contra esta noção pré-gnóstica. Esta posição tem reaparecido atualmente no ensino dos evangelistas da prosperidade”.(2)

     “Elementos deste erro já tinham surgido nos dias do Novo Testamento (1 Jo 4.1-3; 2 João 7; Cl 2.8,9). Em certas formas, sustenta que Jesus escapou da infâmia da morte por crucificação, quando Judas Iscariotes ou Simão cirineu trocaram de lugar com Ele na cruz. Os muculmanos aceitam uma forma deste erro (ver Sura 4.187). Entre os proponentes deste erro estavam Cerinto (c. 100 d.C.) e Serapião, bispo de Antioquia (190-203).”(3)

“O docetismo afirmava que o corpo de Cristo não passava de um fantasma; que seus sofrimentos e morte eram meras aparências. [...] Acreditava que o sofrimento e a morte de Jesus eram incompatíveis com a divindade de Cristo.”(4)

1.2 – O gnosticismo

     “Os gnósticos negaram a humanidade de Cristo de diversas formas. Foram levados a esta negação por seus conceitos sobre a origem do mal. Deus é a única fonte do bem. Como o mal existe, sua origem está não só fora dele, mas também independentemente dele. Mas ele é a fonte de todas as existências espirituais. Por emanação de sua substância são produzidos seres espirituais. Deles procedem outras emanações, e destas ainda outras, em uma deterioração sempre crescente, com base em sua distância da fonte primordial. O mal surge da matéria. O mundo não foi criado por Deus, mas por um espírito inferior a ele, o Demiurgo. [...] O homem consiste em um espírito derivado de Deus combinado com o corpo material e uma alma animal. Em virtude dessa união do espiritual com o material, o espírito fica contaminado e escravizado. Sua redenção consiste na emancipação do corpo, a fim de capacitá-lo a voltar a entrar na esfera dos espíritos puros, ou perder-se em Deus. Para realizar tal redenção, Cristo, uma das mais elevadas emanações de Deus (ou Eons) veio ao mundo. Era necessário que aparecesse “em semelhança de homem”, porém era impossível que pudesse fazer-se homem sem estar sujeito à contaminação e à servidão das quais veio libertar os homens. [...] Alguns afirmavam que Cristo não tinha um corpo real ou que carecia de alma humana, mera aparência sem substância ou realidade. Por isso foram chamados docetistas. [...] Toda a vida terrena de Jesus foi uma ilusão. Ele não nasceu, nem sofreu, nem morreu. Outros admitiam que ele tinha um corpo real, mas negavam que fosse material.”(5)

     Os gnósticos foram profundamente influenciados pela concepção dualista dos gregos, em que a matéria, entendida como inerentemente má, é descrita como completamente oposta ao espírito. Rejeitavam a idéia de uma encarnação. O Cristo do gnosticismo era uma essência espiritual que emanara dos eons. A maioria deles considerava Cristo como um Espírito consubstancial com o Pai. O sofrimento e a morte de Cristo não tinham importância para o gnosticismo.

1.3 – O apolinarismo

     “Apolinário, o jovem (falecido por volta de 390), procurou evitar a separação indevida das duas naturezas de Cristo. Ele ensinou que Cristo possuía um corpo humano e uma alma humana, mas o logos divino no lugar do espírito humano (presumindo que o homem é uma tricotomia). Esse logos dominava o corpo e a alma humana, que eram passivos. Esse erro doutrinário atacava a humanidade de Cristo”.(6)

     “Apolinário, que se tornou bispo em Laodicéia em cerca de 361, ensinava que a pessoa única de Cristo possuía um corpo humano, mas não uma mente ou um espírito humano, e que a mente e o espírito de Cristo provinham da natureza divina do Filho de Deus.”(7)

     “Apolinário, bispo de Laodicéia, defendia a divindade de Jesus, mas o fez sacrificando sua real humanidade. Ele entendia que, em Cristo, a alma divina (ou Logos) tomou o lugar da alma humana.”(8)

     “Esta teoria apareceu no ano 381 da era cristã, negando a integridade da natureza humana de Cristo. Segundo os ensinos de Apolinário, Cristo não tinha mente humana. O que ele tinha de humano era o corpo e o espírito. O Verbo que se fez carne tomou o lugar da mente, e por isso Cristo não era homem perfeito. Cristo era, segundo essa teoria, constituído de corpo, de verbo e de espírito. E, como acabamos de ver desta teoria, este era o argumento em que se afirmava o seu fundador para negar a integridade da natureza humana de Cristo.”(9)

     Para Apolinário, Cristo era Deus com uma casca humana. Possuia um tipo de carne celestial. Cristo não recebeu sua natureza humana, sua carne, da Virgem Maria. O ventre de Maria serviu apenas como local de passagem.



(1)Ryrie Charles C., Teologia Básica ao Alcance de Todos. São Paulo: Mundo Cristão. 2011. p. 288.

(2)FERREIRA. Franklin, MYATT. Alan, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2008. P. 487.

(3)GEISLER. Norman, Teologia Sistemática. Vol 1.  Rio de Janeiro: CPAD. 2010. P. 804.

(4)OLIVEIRA. Raimundo de, As Grandes Doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD.

(5)HODGE. Charles, Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos. 2010. P. 780.

(6)Ryrie Charles C., Teologia Básica ao Alcance de Todos. São Paulo: Mundo Cristão. 2011. p. 288.

(7)GRUDEM. Wayne, Teologia Sistemática: Atual e Exaustiva. São Paulo: Vida Nova. 1999. P. 448.

(8)FERREIRA. Franklin, MYATT. Alan, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2008. P. 487.

(9)LANGSTON.  A. B., Esboço de Teologia Sistemática. São Paulo: JUERP. 1994. p. 107.