Visite o Blog:
MELQUISEDEQUE, SEGUNDO O COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO
Gênesis
14
O segundo rei a sair ao encontro de Abrão
depois de derrotar Quedorlaomer foi Melquisedeque,
rei de Salém. Ele saudou Abrão como um herói ou guerreiro voltando em
triunfo da batalha e, seguindo as convenções da época, o recebeu com pão e vinho (14.18a). É possível que Melquisedeque fosse apenas um líder local
de Salém (chamada posteriormente de Jerusalém) e um jebuseu (pois, mais tarde,
Jerusalém ficou sob o controle dos jebuseus – 2Sm 5:6-7).
Porém, Melquisedeque possuía outros atributos
notáveis. Ele é a primeira pessoa mencionada na Bíblia com o título de
“sacerdote”, e é descrito como sacerdote
do Deus Altíssimo (14.18b). Além
disso, Melquisedeque abençoou Abrão,
numa oração em que primeiro pediu bênçãos sobre Abrão e depois louvou a Deus
por entregar os inimigos de Abrão em suas mãos (14.19-20a). Suas palavras nos lembram que todas as nossas vitórias
são concedidas por Deus. Não devemos assumir o crédito e considerar o sucesso
uma realização nossa.
Ao que parece, Melquisedeque possuía certa
compreensão acerca da natureza de Deus, pois se refere a ele como Deus Altíssimo e o descreve como aquele que possui os céus e a terra (14.20b). Teoricamente, todos os bens
pertenciam a Abrão, pois ele os havia recuperado. No entanto, o mais
impressionante nesse ato é que, ao aceitar a bênção de Melquisedeque e lhe dar
a décima parte de tudo, Abrão o reconheceu implicitamente como seu superior
(cf. Hb 7.4-7).
Tendo em vista a aparição repentina de um
sacerdote misterioso do Deus verdadeiro chamado por um nome que significa “rei
da retidão”, não é de surpreender a fascinação que exerceu sobre gerações
posteriores. Davi se refere a ele como representante de uma ordem especial de
sacerdotes “segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4). Os autores do NT,
especialmente o autor de Hebreus, apresentam-no como símbolo da identidade de
Cristo em seu papel de sacerdote (Hb 5.6,10; 6.20; 7.11). O fato de ele
simplesmente aparecer e desaparecer sem nenhum detalhe histórico a seu respeito
levou o autor de Hebreus a descrevê-lo como “sem pai, sem mãe, sem genealogia;
que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito
semelhante ao Filho de Deus [...], permanece sacerdote perpetuamente” (Hb 7:3).
Essas referências levaram algumas pessoas a
imaginar se é suficiente considerar Melquisedeque apenas rei de Salém, um líder
local. Assim, há quem acredite que, como “rei de Salém” significa “rei da paz”
(Hb 7.2a), e Melquisedeque pode ser traduzido como “rei da justiça” (Hb 7.2b),
trata-se, então, do próprio Cristo numa aparição pré-encarnada. Conforme outro
ponto de vista, Melquisedeque é um título usado para Sem, que talvez ainda
estivesse vivo na época, caso tivesse chegado a 600 anos, quando saiu ao
encontro de seu descendente Abrão. De acordo com essa linha de raciocínio, a
“ordem” sacerdotal à qual Melquisedeque pertence se estendeu de Sem, passando
por Judá, até Cristo.
HEBREUS
7
Melquisedeque é um indivíduo obscuro do AT
mencionado apenas de passagem em Gênesis 14.17-24. Sabemos que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo
(7.1a). A única outra referência a
ele na Bíblia se encontra em Salmos 110.4, texto que fala da vinda do Messias,
o qual ocupará a posição suprema de sacerdote e rei. Agora, o autor explica em
detalhes as duas referências a Melquisedeque e mostra como elas podem ser
associadas a Jesus.
O nome e título Melquisedeque são, por si
mesmos, impressionantes. Seu nome significa rei
de justiça, e seu título, rei de
Salém, ou seja, rei de paz (7.2b).
Os dois títulos são associados ao Messias e, de modo específico, a Jesus (Is
9.6-7; II Tm 4.8).
O autor também se impressiona com aquilo que
não é dito acerca de Melquisedeque. Numa época em que a linhagem era
considerada extremamente importante, Melquisedeque é apresentado como um homem sem pai, sem mãe, sem genealogia (7.3). Isso não significa que ela não
tinha pais humanos. Foi um indivíduo histórico real que viveu numa cidade real
chamada Salém, provavelmente a atual Jerusalém. A falta de informação sobre sua
genealogia e sobre seus pais, contudo, confere-lhe uma qualidade eterna
ressaltada pelo fato de não sabermos durante quanto tempo foi sacerdote nem
quando faleceu. Ele pode ser descrito, portanto, como alguém que não teve princípio de dias, nem fim de
existência. A aparente eternidade e o fato de Melquisedeque ser, ao mesmo
tempo, rei e sacerdote, significam que ele pode ser considerado modelo ou “tipo”
de Cristo, no qual os dois ofícios foram unidos para sempre.
ADEYEMO. Tokunboh
(editor geral), Comentário Bíblico
Africano. São Paulo: Mundo Cristão. 2010. P. 33-34; 1537-1538.