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CONSIDERAÇÕES SOBRE O CULTO AO AR LIVRE
Michael Green, em seu livro intitulado Evangelismo na Igreja Primitiva, assim
começa a falar da história do ar livre: “Além de trabalhar através das
sinagogas, os discípulos seguiam seu mestre pregando ao ar livre. O livro de
Atos dos Apóstolos nos dá inúmeros exemplos disto, como é o caso de Jerusalém,
Samaria, Listra e Atenas.
Em seguida, o mesmo autor nos fornece
importantes informações históricas sobre o uso da pregação ao ar livre pelos
cristãos primitivos:
1 – O “ar livre” já vinha dos judeus, que o
usavam em qualquer lugar: jardins, pátios, beira de rios e mercados.
2 – Mais tarde, Irineu tinha o costume de
pregar em mercados e a céu aberto em pequenas vilas.
3 – Cipriano chegou a correr sérios riscos de
ser preso por pregar em mercados abertos.
Na verdade, as grandes pregações de Jesus
foram feitas ao ar livre, pois não contava com um templo para fazê-las. Basta
lembrarmos das bem aventuranças, quando ele assentou-se no monte e falou à
multidão que ali se ajuntou (Mt 5.1-12).
Muitos pregadores hoje fazem certas
restrições quanto a este tipo de evangelismo. Alguns acham que é um processo de
evangelização ultrapassado e não raro com risco de cair no ridículo.
O grande evangelista Korky Davey declarou num
dos congressos de Amsterdã:
“A
evangelização ao ar livre é considerada por muitas pessoas como algo ineficaz.
Se eu lhe perguntasse: ‘qual é a ideia que você faz de um evangelista ao ar
livre’?, você pintaria o retrato de um home de pé sobre uma caixa de sabão, em
uma esquina, pregando para um poste. De fato, é o que acontece na Europa
Ocidental. Por isso, quando Deus me colocou nas ruas para pregar, tomei cuidado
a esse respeito”.
Principalmente no Brasil, temos constatado
que este tipo de evangelismo é ainda uma bênção. E a razão principal é porque
as praças no Brasil estão sempre cheias de gente, principalmente nas cidades
grandes. Aliás, este é um fenômeno que não ocorre em outros países. Ademais,
outros movimentos estão usando as praças: políticos, artistas e até grevistas.
Num país de índice populacional tão grande como o nosso e onde a grande maioria
do povo depende de condução coletiva para ir ao trabalho, temos sempre uma
verdadeira enchente de gente nas ruas e nas praças. Isto não acontece em países
de nível econômico mais elevado, em que o povo não larga seu automóvel e poucas
vezes está na rua. Se chegarmos a uma praça na cidade do Rio de Janeiro, por
exemplo, na hora em que o povo está esperando o ônibus, naquelas longas filas,
poderemos alcançar milhares de pessoas de uma só vez.
Temos tido experiências marcantes com este
método de evangelismo em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.
Algumas vezes, pessoas em situação desesperadora são alcançadas quando jamais o
seriam num evangelismo pessoal.
I –
Planejamento de Culto ao Ar Livre
Muitas vezes este tipo de programa
evangelístico não dá certo por causa das improvisações. Temos que partir para a
organização e planejar bem o nosso culto ao ar livre. Nada de pegar uma Bíblia
de última hora e querer arrebanhar alguns crentes para um grupinho
insignificante ir cantar num cantinho da praça.
Eis algumas providências de planejamento
nesta área:
1.1 –
Preparação da igreja pra participar desse programa com conhecimento de causa
É necessário um trabalho de conscientização
da igreja. Ela deve acreditar no programa e envolver-se com ele. O pastor deve
pregar alguns sermões sobre o assunto.
1.2 –
Formação de equipes para cada setor
Naturalmente, a igreja deve ter um
departamento de evangelismo. O seu diretor deve promover toda essa organização.
Cada área de cuidado especial pode exigir uma
equipe própria. Nas circunstâncias modernas em nosso país, algumas
providências:
·
Licença
na repartição pública própria. Geralmente o Departamento de Parques e Jardins
quer que lhe seja comunicado o evento, dependendo da importância da praça.
·
Serviço
de som. Em alguns casos, a própria prefeitura dispõe de um setor para
providenciar o som.
·
Algumas
praças possuem um coreto que igualmente poderá ser usado, com a devida licença
do órgão público competente.
1.3 –
Escolha do local
É evidente que, dependendo do local, as
providências especiais acima mencionadas vão ser menos ou mais exigentes. Mas é
importante que se escolha o ponto de reunião previamente. A igreja deve saber
como chegar ao local, o que deve ser providenciado e anunciado.
1.4 – O
programa
É necessário que seja elaborado
antecipadamente. Algumas providências devem ser tomadas e uma delas é a de quem
vai pregar. O pregador de “ar livre” precisa preparar-se tanto quanto o
pregador de púlpito. Por isso, é necessário que seja escalado ao se elaborar o
programa e, ainda, ter um substituto para o caso de uma emergência.
Do programa deve constar também a parte
musical, principalmente a participação especial. Haverá música para o povo
cantar e haverá música para conjuntos, solistas e outras participações especiais.
Tudo isto deve ser programado e tratado antes. Aliás, é aconselhável, em ar
livre, usar partes musicais especiais, em vez de escolher um pequeno grupo para
cantar, o que nem sempre dá certo. Também podem ser incluídas poesias no
programa. Trata-se de um excelente instrumento de evangelização e que tem sido
esquecido. Um bom declamador ou uma boa declamadora fará sucesso no ar livre.
1.5 –
Literatura
Sempre que possível, o tema do folheto deve
ser considerado em relação ao tipo de ouvintes que vamos ter. E então deve-se
providenciar a carimbagem dos folhetos. Isto é muito importante.
1.6 –
Aconselhamento
A equipe de aconselhamento deve estar
preparada. Se a igreja dispuser de uma equipe muito grande, pode-se até mesmo
elaborar uma escala. Por outro lado, ir para a praça sem equipe de
aconselhamento é jogar frutos fora.
1.7 – O
dia certo
A fixação da data não pode ser esquecida.
Mesmo que a igreja já tenha dias fixos, é sempre bom mencioná-los e fazer a
devida promoção. Ir para a praça com pouca gente porque a data entrou em
conflito com outros eventos da igreja não faz parte do bom senso. O ideal seria
as datas de ar livre irem para o calendário de atividades da igreja.
II –
Aspectos físicos do culto ao ar livre
Não parece nada, mas algumas providências
pequenas podem melhorar o padrão dos nossos cultos ao ar livre.
2.1 –
Arranjo dos participantes
Os participantes do ar livre (pregador,
cantores e outros) devem se posicionar em lugar de destaque visual. Se houver
coreto, lá ficarão eles e a assistência ficará na parte mais baixa, voltada
para os participantes.
Na falta de coreto, ou de algo que possa
criar distinção física do local, a assistência formará uma meia lua e os
participantes se colocarão no meio, de tal maneira que os visitantes que forem
chegando completem o círculo. [...] É importante a visão para a eficiência da
comunicação.
2.2 –
Serviço de som
Seja o som fornecido pela prefeitura, ou
instalado pela igreja ou por companhia particular, deve ser testado com
bastante antecedência. Nada existe sujeito a tanto contratempo como o serviço
de som. Na última hora, tudo pára. Numa praça, vamos depender do som. É bom que
se disponha de um ou dois microfones de reserva. Também é de bom conselho não
ficar alterando o nível do som. Um dos hábitos das pessoas que cuidam do som é
nunca parar de mexer no painel de controle.
2.3 –
Placa identificativa
Algumas igrejas usam levar uma placa montada
sobre tripé, que a identifica para os frequentadores da praça. Esta prática é
útil, principalmente em logradouros que são usados por diversas seitas. Muitas
vezes sua igreja poderá ser confundida por uma seita, o que não seria
desejável.
III –
Principais elementos do programa
Evidentemente, este é um programa
evangelístico, por natureza, mas, para melhor atingir seus objetivos, poderá
compor-se de partes variadas.
3.1 –
Recursos audiovisuais
O culto ao ar livre deve ser atraente,
dinâmico e espiritual ao mesmo tempo. Se ele carecer de um bom nível, não vai
atrair ninguém. Há muitos recursos audiovisuais, desenhos em prancha,
fantoches, “mágicas”, e até jograis (coreografias), se bem curtos.
É curioso que até mesmo coisas próprias para
o gosto das crianças possam agradar também os adultos, como é o caso de
fantoches. Mesmo porque, atraindo as crianças numa praça, os pais virão junto e
se sentirão gratificados também.
3.2 –
Músicas
Estas devem ser escolhidas de acordo com o
tem do programa geral. O responsável por esta área deve ter o cuidado de contar
com um participante eficiente. Se um cantor não tiver a voz clara, dificilmente
se comunicará bem com o público.
3.3 – A
mensagem
Pede-se que a mensagem seja curta e objetiva,
transmitida no máximo em 15 minutos e apresentada com frases curtas, simples e
claras. Aqui funciona o mesmo princípio da mensagem escrita, conforme Habacuque
2.2. Até quem passar correndo poderá gravar uma frase do pregador.
3.4 –
Texto bíblico
Quem abrir o programa pode ler o texto
bíblico que será lido também pelo pregador. Bíblia nunca é demais. No entanto,
deve-s ter o cuidado de escolher textos curtos e simples, que digam, por si
mesmos, algo sobre o que se quer dizer. O pregador deverá, no decurso da
mensagem, repetir várias vezes o seu texto. Esse texto deverá ficar gravado na
mente dos ouvintes. Não é aconselhável usar um texto muito longo nos cultos ao
ar livre.
3.5 –
Distribuição de literatura
Deve ser feita concomitantemente com o apelo
final da reunião. Mas se algum assistente sair antes do término, a equipe
própria deve estar preparada para entregar a essa pessoa um folheto. A
distribuição durante o culto, principalmente durante a pregação, é contra
indicada. As pessoas poderão se distrair com a leitura do folheto, em vez de
prestarem atenção ao programa. É de grande eficiência a colocação de um membro
um pouco afastado da concentração, oferecendo literatura aos assistentes que
preferem não se aproximar do pregador.
3.6 – O
apelo
O apelo sempre deve ser feito, ainda que
venha a depender do tipo de ambiente. De qualquer maneira, é preciso que seja
feito em termos claros. Primeiro, deve-se convidar as pessoas a aceitarem a
Cristo como Salvador. Numa segunda oportunidade, pode-se chamar alguém que não
quer decidir-se ao lado de Cristo, mas que gostaria de receber um Novo
Testamento. É contra indicado, hoje em dia, o apelo para que se ore pelas
pessoas. Por causa de certas seitas que abusam desse recurso, cresce nas pessoas
assistentes um sentimento quase supersticioso: elas querem receber bênçãos e
favores de Deus, mas não pensam em partir para um comprometimento com Deus. E não
é isto que Jesus veio fazer. Ele veio promover, de fato, um comprometimento com
as pessoas. Portanto, devemos ter cuidado com o tipo de apelo que fazemos.
3.7 –
Encerramento
No encerramento do culto, o dirigente
agradecerá a assistência e dará o endereço da igreja, assim como os horários de
culto. Se for o caso, convidará os ouvintes a seguirem o grupo e participarem
do culto da noite.
Havendo tempo disponível, o dirigente poderá
mencionar a presença de membros da equipe de aconselhamento dispostas a ajudar
pessoas desejosas de maiores esclarecimentos sobre a mensagem e sobre o
evangelho.
CONCLUSÃO
Notemos que fazer um bom culto ao ar livre
exige certos cuidados. Os tempos modernos requerem mais diligência de nossa
parte para tais programas. E se levarmos a sério este tipo de evangelismo de massa,
conseguiremos muitos frutos.
TEXTO
RETIRADO DO LIVRO:
FERREIRA. Damy, Evangelismo Total. Rio de Janeiro: JUERP. 1991. pp. 104-109.
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